sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Jazz veio pr'a ficar

Após vários anos de incompreensões eis que surge em grande estilo o Jazz na minha vida. Desde o sax ao trompete, o celo á bateria e em que todos e demais intervenientes argumentam com o seu ingrediente som para uma boa sonoridade e batida.
Desde os monstros "sagrados" (talvez não devesse colocar esta palavra, pois pode ferir susceptibilidades, criando um mal estar e onde seja exigida a sua retirada, sem que no entanto seja conferida a ilação de que ao estarmos num estado de direito, o meu blogue é livre, dentro de limites da moral e bom senso ). Deixo pois á consideração. Voltando então aos ditos monstros que denomino agora de "very best", até aos autores nacionais, uns mais do que outros, tem sido com enorme prazer que me tenho deliciado ouvi-los.
Preferências, sómente algumas, desde a Billie Holiday, Miles Davis, Benny Goodman, entre outros.
No entanto, diga-se em abono da verdade que ouvir este tipo de acordes ao vivo pelos nossos músicos no Hot Club é qualquer coisa de divinal, mágico, envolvente e carismático. Se não, vejamos.
Este pequeno clube encontra-se situado na Praça de Alegria, na zona do Parque Mayer. Aqui e diante dum parque, deparo-me com uma luz fraca sempre que por aí passo á noite. O prédio antigo, escuro, taciturno mas austero pelos anos que já lhe passaram, tem uma porta igual a tantas outras, nada fazendo prever o que esconde lá dentro. Entrada peculiar devido ao "pica" que se encontra devidamente sentado numa cadeira de madeira com uma pequena mesa também ela de madeira possivelmene de carvalho robusto á sua frente. Este trio tem certamente uma idade engraçada. Em cima da mesa os bilhetes de ingresso, fazem-me voltrar atrás no tempo e a lembrar os antigos bilhetes de cinema, tipo rifas. Quando entrei, parecia pois que tinha recuado no tempo.
O ambiente na entrada é para o escuro com escadas com cerca de dez pequenos degraus de ferro forjado. Na descida, encontram-se expostos na parede inumeras fotos para deliciar os fâs e reviver tempos e lendas d'outrora.
Na cave própriamente dita encontramos o local mais sagrado e esperado por todos: O Palco. O centro de atenções óbvias dos "habitués" é como seria de esperar pequeno neste habitat. No entanto, qb para os quatro ou cinco elementos. Quinze metros quadrados quanto muito, é o que terá o centro das atenções a separar da fiel audiência, apenas separada por um pequeno degrau. Mesas pequenas e possantes de madeira preenchem o espaço aconchegado e sombrio na zona central da sala, com bancos pequenos a ladeá-las. Existem no entanto, três sofás longitudinais a preencher a sala, quer do lado direito quer do lado esquerdo. Junto ao bar, o barman serve bebidas e aperitivos para meu contentamento. As pessoas trocam impressões, sorrisos entre uma "jola" e um "come", ao mesmo tempo que ouvem o som pacato de uma música de Jazz em CD.
Saio da sala e deparo-me com a "esplanada" no logradoudo do prédio. Quem diria. A dita esplanada, "sem vista" tem agora mesas de ferro, próprias para suportar a mais violenta intempérie. Questiono-me onde serão os lavabos. Acertei e sorrio irónicamente sómente de pensar no frio que deve ser no inverno" rigoroso". Vejam e descubram porquê.
Por fim, chega a hora. Acabo a bebida e dirijo-me para a minha mesa habitual, mesmo em frente ao palco enquanto os intervinientes acabam as conversas e bebem o último trago, junto do barman, dos amigos e conhecidos que por ali se encontram. O público, sedioso dança inquieto nos bancos pela demora. Os músicos entretanto dão os últimos retoques de afinações aos seus instrumentos. Está na hora, quase apetece gritar . Por fim uma paragem, um silêncio no palco, seguido dos primeiros acordes dos reais instrumentos faz calar por completo os súbtidos que ouve, escuta e muitas vezes sorri, quando um real acorde lhe sobe mais na alma. Os músicos esses, desligam-se da audiência e partem como que para outra galáxia, cheia de cor e trejeitos. Moldam-se fundem-se com os seus instrumentos. Vejo o guitarrista a bailar durante uma hora enquanto o baterista gesticula frenéticamente os seus tentáculos. São verdadeiramente seres do outro mundo. E é nesses instantes que penso que como será a sensação de ouvir Jazz em Nova Orleães ou em Paris. Ilariante e espectacular  talvez. Regresso do espaço e constacto que já são perto das 0.00H. Está na hora. Abandono o recinto mágico e continuo a trautear o ritmo pelas escadas acima. Saio, aboto o casaco de pele e regresso á minha condição de citadino olhando para a minha cidade adormecida. Hei-de regressar.

                        

2 comentários:

  1. Eu cá sou mais do estilo rock & Roll antigo, ACDC, Led Zeppelin.... mas confesso que após 2 meses com as mesmas musicas no mp3 (nao trouxe uma pen com outras musicas) já ouvia um coltrane ou um muddy waters (espera isso é blues....)

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  2. Gostei desta ida ao Hot Club! Tens uma boa perspectiva para retratar, estou a ver - e pude ler. O resto da técnica aprende-se, Manuel Afonso. Começar por short stories é o ideal. Agora é só continuar...

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